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:: "A estória é linda, futurista, mas totalmente realista e palpável. Um trabalho que, ao meu ver, só trará benefícios a todos, de forma direta aos que lerem e de forma indireta aos que ouvirem falar sobre". :: Rosa Maria - professora.

Primeiro Capítulo

Introdução

  Sentado na varanda da casa do rancho onde morava, lá no sopé da montanha, Lucas observava o céu, tomando calmamente uma taça de vinho tinto, o seu predileto. A noite estava linda. Na primavera, elas são geralmente frescas e agradáveis.
  Ele estava distraído apreciando a beleza do céu, quando foi atraído por uma luz muito forte, que piscava alternadamente e vinha de longe, de uma pequena elevação depois da várzea.
  A princípio, pensou que fosse algum avião comercial, cujas rotas passavam por aquele local todas as noites; depois, notou que a intensidade da luz era muito maior que a dos aviões e que nunca havia visto nada igual passando por ali.
  A luz foi piscando e descendo lentamente. Lucas teve uma sensação estranha, uma atração muito forte. Como se estivesse sendo puxado por alguma coisa, foi caminhando em direção a ela. Ao se aproximar, a atração foi ficando cada vez maior.
  De repente, ele se viu correndo, pulando cercas e atravessando brejos, sem parar. Parecia que ainda era jovem, apesar dos cabelos já prateados pelo tempo.
  A poucos metros da luz, seus olhos se turvaram. Começou a sentir um estranho cansaço e seu corpo foi ficando todo mole. Então, ele não aguentou mais e desmaiou.
  Quando voltou a si, já estava amanhecendo, e os primeiros raios de sol surgiam atrás dos montes e começavam a anunciar um novo dia lá no rancho.
  Levantou-se com muita dificuldade e ainda meio tonto. Olhou a sua volta demoradamente e reparou que o pasto, perto de onde estava, havia sido todo queimado num círculo de mais ou menos uns seis metros de diâmetro. Não havia vegetação nenhuma e o solo dentro do círculo ainda estava bem quente.
  Caminhou com dificuldade e viu um objeto metálico no centro do círculo, feito pelo fogo. Era uma caixa quadrada, e tocou-a com um pouco de receio. Ela ainda estava quente; então, esperou até que esfriasse e tentou abri-la ali mesmo com a ajuda de um pedaço de pau e uma pedra, porém não conseguiu. Pegou-a e voltou para casa, caminhando lentamente.
  Na varanda, no beiral perto da rede, também se encontravam a garrafa e a taça, ainda com um pouco de vinho. Recolheu-os e entrou. Seu corpo estava todo moído. Devia ser efeito da longa corrida ou da noite mal dormida.
  Entrou no banheiro e tomou um banho demorado e reconfortante. Passou pela cozinha, onde o aroma do café já se espalhava pelo ar. Cumprimentou Rita, a velha cozinheira, que cantarolava baixinho enquanto fazia o seu serviço, e foi até o paiol do rancho, onde guardava inúmeras ferramentas.
  Estava com muita curiosidade em saber o que havia dentro daquela misteriosa caixa. Depois de várias tentativas, conseguiu abri-la com a ajuda de um torno e uma alavanca de ferro.
  Dentro dela, protegido por um plástico grosso, revestido com alumínio, havia o que parecia ser um livro. Ficou um pouco decepcionado com o que viu e perguntou a si mesmo em pensamento: “tanto mistério só por isso?”.
  Pegou-o, deu uma olhada rápida e voltou para casa. Foi até a mesa e começou a lê-lo ali   mesmo, enquanto tomava café.
  A história iniciava assim:
[...]
“Não há no mundo nada de mais belo que a criatura humana. Mesmo numa época agitada como a de hoje, cheia de conflitos e discórdias, ainda existe uma grande parte que acredita num futuro melhor, num futuro em que os seres humanos possam viver em harmonia entre si, explorando a sua própria grandeza.
Cada pessoa traz no seu interior um mundo diferente. Seria muito difícil encontrar alguém que concordasse que o mundo devesse ser exatamente como ele é.
Quando digo o mundo, não me refiro a este espaço terreno que habitamos, mas sim ao sistema de vida que adotamos. Conheci um mundo bastante diferente deste em que estamos. Limito-me somente a transportá-lo para o papel, com o grande desejo de ajudar a minha espécie.
Esta história é um alerta à humanidade, para que ela tente corrigir suas diferenças e consiga mudar o sistema de vida atual, para evitar um trágico fim. Foi escrita na tentativa de tocar o coração e a consciência de cada ser humano, e assim, quem sabe, evitar uma grande catástrofe.”

Lucas fechou o livro, olhou a capa e não encontrou nada escrito nela. Estava em branco, não havia nenhum nome de editora ou escritor.
Tomou seu café lentamente, enquanto meditava sobre aquela introdução que acabara de ler, e indagava: A que catástrofe o autor estaria se referindo? Se fosse um furacão, um terremoto, um ciclone, um maremoto ou qualquer outro fenômeno da natureza, como tem ocorrido quase todos os anos em diversos lugares do mundo, não haveria como evitar. Os governos de todos esses países têm feito de tudo para amenizar os seus efeitos, mas pouco têm conseguido. Seria o efeito estufa, assunto mais comentado no momento? Será que a grande emissão de gases poluentes teria aumentado o buraco na camada de ozônio e corríamos perigo iminente?
Acabou de saborear o café, pegou o livro e o colocou sobre o peitoril da janela da varanda, perto da rede de balanço.
Ainda um pouco cansado, foi cuidar dos rotineiros afazeres do rancho, como fazia todas as manhãs.
Quando foi ao pasto apanhar as três vacas para levar ao curral e tirar leite, passou novamente por onde havia desmaiado na noite anterior. Parou e ficou olhando com muita calma o pedaço de pasto queimado, em forma de círculo.
Sua curiosidade aumentou ainda mais.
– O que teria acontecido? – perguntava. Ouvira muitas histórias sobre discos voadores e os tão famosos objetos voadores não identificados.
Depois de muito pensar, concluiu: “Não, não poderia ser. Nenhum ser extraterrestre iria pousar ali no rancho, só para deixar um livro escrito em meu idioma, para que eu pudesse ler”.
Olhou mais uma vez o pasto queimado, tocou o chão, encheu a mão de terra e cheirou para ver se não teria sido queimada com gasolina ou outro produto inflamável qualquer, mas não conseguiu descobrir. Talvez algum balão bem grande tivesse caído naquele local e se incendiado; porém, se fosse um balão, teriam sobrado algumas peças e o círculo queimado no pasto não teria sido tão regular.
O cheiro não apresentava nenhum odor diferente, era apenas cheiro comum, de mato queimado.
Começava a imaginar uma porção de coisas. Seguiu até o curral, alimentou e ordenhou as vacas, e levou o leite para casa. Tratou de tudo o que precisava de cuidado na parte da manhã. Almoçou calmamente e tirou uma soneca deitado na rede da varanda, como fazia todos os dias.
Quando acordou, decidiu não ir até a cidade. Lá, pela tarde, ele e os amigos, todos aposentados, reuniam-se para um joguinho de cartas na pracinha da igreja, bem no centro. Não tinha o hábito de ler livros. Quando muito, lia as manchetes dos jornais e, às vezes, a parte de esportes. Pegou o livro no peitoril da janela e olhou cuidadosamente. Começou a ler, para ver se conseguia encontrar ali as respostas para as inúmeras interrogações que ainda povoavam a sua cabeça.
Leu uma outra vez, e com um pouco mais de calma, a introdução. Concordava com quase tudo o que estava escrito nela, só não entendia a parte na qual o autor dizia ter conhecido um mundo bem diferente deste em que estamos. Que mundo seria esse? Será que havia conhecido outro planeta? Será que algum extraterrestre o havia abduzido e depois trazido de volta?
Isso fez com que Lucas sentisse uma vontade muito grande de continuar a leitura daquele estranho livro, para tentar desvendar o mistério que o intrigava.
Acomodou-se na rede e folheou mais uma página, onde estava registrada a seguinte história.

A Viagem

  No ano de 2015, o Centro Espacial dos Estados Unidos conseguiu desenvolver uma nave capaz de se deslocar numa velocidade superior à velocidade da luz. Foram muitos anos de intensas pesquisas, um custo astronômico e um exaustivo trabalho, até concretizar o ambicioso projeto.
  Segundo a teoria de Albert Einstein, o pai da física, se uma pessoa conseguisse deslocar-se com tal velocidade ao redor da Terra, alcançaria o passado ou o futuro, conforme o sentido do giro, e romperia a barreira do tempo.
  A nave tinha acabado de fazer seus últimos testes na base aérea de Indian Springs, no estado de Nevada. Eu a admirava muito, era a primeira máquina daquele tipo no mundo. Para sua construção foram contratados os mais famosos cientistas, de várias nacionalidades, que, num esforço incomum, conseguiram criar um aparelho capaz de viajar numa velocidade nunca vista.
  Também havia em mim um leve toque de orgulho. Depois de rigorosa seleção na base aérea, fui escolhido entre os cinco melhores astronautas do mundo. Sofrera os mais duros testes e um intenso treinamento para realizar aquela viagem.
  Acabara de completar 25 anos e estava radiante. Era apaixonado por aviação desde criança. Já tinha feito parte da tripulação de vários voos pelo espaço e estava apreensivo pela maior de todas as viagens: a viagem através do tempo.
  Despedi-me de minha mãe e de Roney, meu melhor amigo. Fiz todos os exames médicos necessários e fiquei trinta e seis horas me alimentando das pílulas que supriam todas as necessidades básicas do organismo.
  No dia do lançamento da nave, meu coração era um misto de alegria, ansiedade e um pouco de medo também. Aquele voo era o primeiro a ser realizado com só um tripulante, para diminuir o peso da nave.
  Tudo estava pronto. O país inteiro havia parado. Quem não estava presente para assistir ao acontecimento, encontrava-se diante de um aparelho emissor de imagens, aguardando o lançamento.
  O verdadeiro destino daquele voo foi cercado de grande sigilo e não era do conhecimento da população. Só o pessoal do alto escalão do governo e a cúpula da base espacial tinha conhecimento da verdade.
  Todos, no país, imaginavam que seria apenas mais uma viagem espacial e que dessa vez tentaríamos chegar até o misterioso planeta Marte, o mais próximo da Terra, conforme boletim divulgado pela Agência Espacial Norte-Americana.
  Na contagem regressiva para o lançamento, vivi os dez segundos mais longos da minha vida: 10, 9, 8... 3, 2, 1, 0... Um estrondo monstruoso fez tremer a Terra num raio de mais de um quilômetro de distância. Um fogo formidável e multicor marcou a partida da nave. A população presente, de olhos vidrados e respiração contida, assistiu ao lançamento e à subida da nave, até o seu desaparecimento total no espaço.
  Apesar do rigoroso treinamento a que fui submetido, sofri muito com os impactos iniciais e tive uma forte depressão. Senti um vazio no estômago e o ar me faltando. Pouco a pouco percebi que tudo estava voltando ao seu estado normal e assumi novamente o controle da nave.
  Olhei os aparelhos e fui informando à base as variações de temperatura, pressão, velocidade e registro de tempo.
  Pela tela situada a minha frente, podia ver a Terra como uma massa branca, semelhante a uma bola de algodão, tamanha era a velocidade desenvolvida pela nave. Por instantes, fiquei a observá-la e a compará-la com uma piorra metálica colorida que tive na infância, a qual, conforme girava no chão, fazia suas cores irem se misturando e se transformando numa só.
  Consultei novamente os aparelhos: tudo estava normal, falei com a base e continuei a observar a Terra, que se parecia agora com uma massa disforme.
  A nave foi programada para atingir cem anos no futuro, o ano de 2115. O aparelho utilizado para marcar o tempo, o ano que a nave já havia atingido, não resistiu à intensidade do giro e apresentou problemas. Tentei de tudo, mas nada consegui. Estava entregue à própria sorte. Tentei de todas as maneiras um contato com a base, mas foi em vão.
  Os rádios não funcionavam mais e as comunicações estavam temporariamente interrompidas. Agora, só me restava esperar e pedir a Deus. Não havia nada que eu pudesse fazer.
  A nave foi diminuindo a velocidade de repente, de maneira brusca, e sofreu um estremecimento total, dando a impressão de ter se chocado contra outro corpo. As luzes se apagavam e se acendiam desordenadamente em seu interior. Eu tentei mais uma vez um contato com a base, mas não tive êxito. Falava, falava e não obtinha nenhuma resposta. Testei todos os controles, mas nada funcionava.
  Começaram a surgir em mim os primeiros sinais de decepção e fui tomado por um medo muito grande.
  Ao me aproximar da Terra, a velocidade da nave diminuiu abruptamente e fui lançado no espaço pelo ejetor automático. Logo após ser ejetado, uma imensa explosão desintegrou-a no ar. Senti o corpo todo estremecer com o impacto causado. Perdi os sentidos e não vi mais nada.
  Quando acordei, estava pendurado nas ruínas de um prédio e as cordas do meu paraquedas presas na ponta de ferros retorcidos. Estava a uns quatro metros do chão e devia estar ali havia muito tempo. Meu corpo pesava e eu me sentia muito fraco.
  Consegui, com muito custo, soltar-me das cordas que me prendiam ao paraquedas. Caí no chão e bati com o ombro direito numa ponta de concreto dos restos de uma coluna destruída, me ferindo. Estava sangrando um pouco. Com o impacto da queda e meu estado de fraqueza, fui perdendo lentamente os sentidos e desmaiei mais uma vez.
  As pílulas que me deram para tomar, quando iniciei a viagem, permitiram que eu ficasse alimentado por muitas horas.
  Acordei somente no dia seguinte. Toquei o ombro machucado e notei que o ferimento havia parado de sangrar, mas meu corpo ainda estava muito dolorido.
  Estava curioso para saber onde e em que época me encontrava. Levantei-me com dificuldade, olhei ao redor e levei um susto enorme, tudo em volta estava arrasado. Não havia um prédio em pé e nenhum sinal de vida. Para todos os lugares em que olhava só via destruição.
  Estava meio tonto, sentei no chão novamente, estiquei as pernas, tornei a me deitar sobre os escombros e adormeci.
  Quando acordei, caminhei por toda parte sem encontrar nada que não tivesse sido destruído. Só conseguia ver esqueletos humanos e escombros por onde passava. Aquele dia choveu um pouco, uma chuva fina e fria. Acomodei-me embaixo do que sobrou de uma marquise, recolhi um pouco da água da chuva com as mãos e tomei outra pílula de alimentação.
  Tão logo a chuva passou, o sol se abriu novamente e eu segui em frente, sem rumo.
Fiquei imaginando o que deveria ter acontecido. Pensei comigo que somente uma guerra poderia ter causado um estrago tão grande.
  Continuei caminhando à deriva por mais uns dias, passando a noite sob as ruínas de algum prédio, ou dentro da carcaça podre de algum veículo abandonado.
  Uma tarde, procurando um lugar no qual pudesse me abrigar, entrei na carroceria de um ônibus escolar e vi uma cena muito triste. Havia um esqueleto humano em cada poltrona, até na do motorista. Pelo tamanho dos esqueletos, dava para ver que eram de crianças. Numa carteira de identidade caída perto do motorista, deu para saber que estava nos Estados Unidos, o meu país, só não sabia onde. Aquele ônibus deve ter saído de alguma escola e não ter tido tempo de chegar ao seu destino.
  Pensava, preocupado: “será que a humanidade toda foi destruída, ou só o país? Será que não existe mais civilização? Em que época do futuro devo estar? Será que conseguirei voltar para casa?”. Fiquei com muito medo. Todas as interrogações se misturavam na minha cabeça.
  Uma sensação de arrependimento e uma grande frustração tomaram conta de mim. Entre cinco pilotos do país, todos com muito mais experiência que eu e em melhor colocação na prova de seleção, fui indicado na última hora para fazer esse voo, que era sem dúvida meu maior sonho. Meu medo passou a ser de que tudo aquilo não tivesse passado de uma brincadeira do destino comigo.
  O piloto colocado em primeiro lugar em todos os testes e também o de maior experiência em voos espaciais, o Alfred, teve um filho ferido em um acidente automobilístico e não pôde viajar. Os outros três estavam em missão no espaço e eu era o único disponível. Como o programa espacial não podia parar, tive que substituí-lo na última hora.
  A princípio, fiquei feliz e eufórico com a chance de realizar o grande sonho da minha vida. Não imaginava que algo pudesse dar errado, mas infelizmente deu.
  Na manhã seguinte, continuei caminhando. Precisava encontrar água, já não estava mais aguentando de tanta sede e não havia nem sinal de chuva. Meu corpo estava perdendo as forças.
  Entrei nos escombros que pareciam ser de uma lanchonete ou de um restaurante e, depois de testar uma torneira, constatei que estava seca; continuei procurando alguma coisa que pudesse beber. Encontrei num canto, sobre uma bancada de granito, várias caixas com latas de refrigerante, mas todas estavam vazias, com o lacre estourado.
  Pelo aspecto de tudo o que eu via, deduzi que o que quer que tivesse acontecido naquele lugar, uma guerra, um terremoto, ou qualquer outra coisa, já havia ocorrido há muito tempo.
  Andei mais alguns quilômetros; meu coração disparou, fazendo com que perdesse o fôlego, quando olhei para o outro lado e vi o que parecia serem destroços de um edifício. Depois daqueles atentados, não era possível encontrar... não, eu não havia viajado para o passado. O computador de bordo estava programado para ir ao futuro. Causou-me grande tristeza ver aquele edifício destruído daquela maneira, mas pelo menos agora eu já sabia que estava na cidade de Nova Iorque, tendo a minha frente a ponta metálica do topo do Empire State.
  Depois de mais algumas horas caminhando, avistei ao longe as ruínas de uma ponte, ou do que restava dela. Caminhei até lá e provei a água, mas não consegui tomá-la; estava salobra, com gosto de água do mar, ou de leite ligeiramente azedo.
  Mudei a direção e passei a caminhar para a direita, até chegar numa parte do rio, onde a água estava limpa e poderia então matar minha sede.
  A destruição foi de tamanha proporção que eu nem sabia mais como me orientar naquela cidade.
  Continuei caminhando por mais alguns dias pela margem do rio, perto da água.
  Meu problema então passou a ser a fome. As pílulas que levei haviam acabado na noite anterior. Vasculhei todos os lugares, mas não encontrei nada. Fui ficando cada vez mais fraco.
  Avistei, encostados na beirada do rio, os restos de um barco destruído. Consegui algumas cordas apodrecidas e, com muito esforço, amarrei-o na ponta de um pilar do que restou de uma ponte, para que eu pudesse subir nele, sem que a correnteza o levasse, e tentar encontrar na água um peixe ou qualquer outra coisa que servisse para comer.
  Foi em vão: não encontrei nada naquele rio que pudesse matar a minha fome.
  Estava no limite de minha resistência. Minhas forças estavam acabando e, depois de demasiado esforço para amarrar o barco, meu ferimento abriu e voltou a sangrar.
  A correnteza estava forte. Meu corpo foi caindo lentamente, não consegui mais ficar em pé e desmaiei sobre o chão do barco, que balançava demais. Então não vi mais nada...